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Assunto: R e f l e x ã o
TEMA: ERRADICAÇÃO DA POBREZA EM ANGOLA OU AUMENTAR A POBREZA EM ANGOLA?
Introdução:
No passado dia 28 de Julho de 2011 participamos numa conferência bem concorrida sob o tema “ Conferencia sobre Desenvolvimento e Erradicação da Pobreza em Angola e na África Austral”. Esta teve lugar na sala de conferências da Associação Chá de Caxinde – Luanda.
Durante a conferência houve varias intervenientes, convidados e palestrantes conhecedores do assunto o que animou os participantes, pelo que colocaram varias perguntas e as mesmas foram respondidas pelos apresentadores dos painéis.
Descobri que tecnicamente e economicamente os apresentadores dos painéis são conhecedores da matéria, mas a uns faltou-lhes conhecer a realidade que se passa com as comunidades rurais. As dificuldades que atravessam ao adquirir ferramentas, sementes e as barreiras que encontram no escoamento dos produtos colhidos.
I- O estado actual dos terrenos no meio rural
Uma das dificuldades que os camponeses têm é o de possuir uma terra para criação de uma lavra familiar. Pois todos os terrenos têm donos quando conseguem essas terras estão cheias de arvores e é necessário derrubar e efectuar a primeira lavoura o que não tem sido fácil. Faltam bois para tracção e charruas, mão-de-obra humana muito cara, muitas vezes os trabalhadores não querem dinheiro, a mão-de-obra tem de ser trocada a custo de géneros alimentícios ou vestuário.
Outro problema é terras situadas nas zonas altas com falta de água para rega. Apenas servem na época chuvosa o que contribui no empobrecimento dos camponeses.
As motobombas são prejudiciais aos camponeses do meio rural, não só os custos elevados das mesmas, exigem assistência técnica o que não é barata, falta de lubrificantes e consumíveis que não existem nas sedes municipais.
II - Sementes / cereais
Não existem sementes certificadas em Angola. Em Angola não há sistema funcional que eu conheça especializado na selecção de sementes tais como de milho, feijão, trigo, soja e outras da classe das oleoginosas.
As sementes de cereais que usamos nestes últimos anos são caducadas. Por isso que a produção de cereais é diminuta e sem qualidade. Algumas vezes aparecem sementes de média produtividade o que nem sempre acontece.
Angola inteira carece de sementes melhoradas e certificadas principalmente de milho, feijão e trigo. Incentivar os camponeses a produzir muitos cereais tais como milho, trigo, e feijão, este último no passado colonial constituiu fonte de receitas ao ser um dos produtos exportado. Este é o momento de combater o paternalismo, no seu lugar colocar inovações para que o país deixe de importar alimentos tais como a fuba, feijão e hortaliças.
Angola tem boas variedades de mandioca e batata-doce. Nesta linha nós estamos em cima, algumas buscas efectuadas encontramos mandioqueiras a produzir 10 á 12 kg de mandioca o que é muito bom. A batata-doce produz-se bem, o que está a faltar é o conhecimento da conservação e sua industrialização para servir de consumo o ano inteiro.
III- Sementes Hortícolas / Batata rena
1- Quem visita as casas que comercializa sementes de hortaliças das cidades de Benguela, Huambo e Lubango encontra-as sempre cheias, são sementes importadas da Europa, caríssimas mas toda gente procura adquiri-las, os custos de fertilizantes importados, as fungicidas e pulverizadores são outros valores acrescidos nos preços elevados das sementes.
Essas hortaliças são produzidas para serem vendidas as grandes lojas das cidades onde há milhares de consumidores. Pois, os produtores destas hortaliças têm a base de alimentação a fuba de milho, mandioca e feijão. É por isso que encontramos muitas hortaliças a deteriorar-se nos mercados, mas nenhum bago de milho desperdiçado.
Angola carece de homens e mulheres que estudam os fenómenos filosóficos das comunidades ditas “angolanos do “ fim do mundo.”Isto é aqueles que vivem da agricultura, pastorícia, pesca artesanal e caça.
Os produtores não se alimentam das hortaliças nem de batata rena mas de cereais, de mandioca e batata-doce; Conclui-se que a plantação de hortaliças e da batata rena é exclusivo a venda e com os resultados investir no melhoramento social da família, pagamento de propinas escolares dos filhos, saúde, etc.
2- Custos das Sementes, charruas e motobombas / cidade de Lubango, conforme o tema: reduzir ou “Erradicação da Pobreza em Angola”, não será possível, antes porem contribui na desgraça das comunidades rurais. Os custos com os insumos agrícolas não ajudam aos camponeses a progredirem economicamente.
Mapa 1
Marca |
Peso/gramas |
Preço Unitário |
Repolho K K |
100 gr |
Kz.6.000,00 |
Cebola Texas |
100 gr |
Kz.1.690,00 |
Couve tronchuda |
100 gr |
Kz. 905,00 |
Cenoura |
100 gr |
Kz. 870,00 |
Tomate Roma VF |
100 gr |
Kz. 1.745,00 |
CHARRUA |
1 |
Kz. 16.500,00 |
Motobomba/gasóleo |
1 |
Kz.159.875,00 |
Adubos 12x24x12 |
50 kg |
Kz.4.600,00 |
Ureia |
50 |
Kz.4.700,00 |
Pulverizador |
1 |
Kz.7.000,00 |
3 – Para que o camponês produza uma qualidade de hortaliça aceitável no mercado consumidor, ele tem de investir muito mais na preparação e na fertilização do solo, na rega e no combate as doenças.
V – Colheita dos produtos, Transportação e Venda
A primeira dificuldade que o camponês encontra é o de escoamento dos produtos do campo para a aldeia.
A segunda dificuldade é encontrar clientes que possam comprar as quantidades colhidas. As vezes quando aparecem, não oferecem preços que pague o investimento feito e da força gasta pela família visto que o camponês no meio rural só faz contas da mão-de-obra vinda de fora e nunca da própria família.
O aluguer dos transportes para as cidades consumidoras das hortícolas e batata é bastante elevado, cada camionista tem o seu preço, é tempo de exigir do Governo para que regule leis que possam resolver a situação, pois não prejudica somente o camponês mas contribui na subida de preços nos Centros Urbanos.
Quando não há compradores os produtos acabam por deteriorar-se, os camponeses entram em declínio, alguns optam por abandonar o interior e vão engrossar aos habitantes das vilas e cidades. Os filhos que eram nutridos pois que antes alimentavam-se suficientemente com os produtos do campo e beneficiavam com águas das nascentes sem contaminação, são carregados para as grandes cidades onde a vida é cada vez mais difícil. É por isso que aparecem nas ruas os chamados meninos de rua ou na rua e desnutridos.
VI – Comércio só á dinheiro e mais nada
Quem anda ao interior de Angola e nas sedes provinciais e municipais encontra os mercados e lojas que só comercializam os produtos importados a partir das velas iluminantes, a fuba de milho importada do Brasil ou dum outro país cujas vendas só a dinheiro e ponto final.
Os camponeses tem dificuldades de vender os seus produtos do campo, apenas têm facilidade de vender o feijão e amendoim pois estes são comprados pelos vendedores ambulantes (vulgo candongueiros). Como é possível ter dinheiro para adquirir o sabão, ou outros bens da primeira necessidade se o comerciante apenas vende por dinheiro? Alguns camponeses produzem menos no campo, mas trabalham mais na produção do carvão contribuindo na devastação das matas. Com o carvão o camponês consegue rapidamente o dinheiro.
Por outro lado, como é possível importar fuba de milho e enviar às zonas que produzem tanto milho? O exemplo de Andulo onde há muito milho e não têm mercado para vende-lo. Mas encontramos as lojas cheias de fuba importada.
Temos acompanhado os pronunciamentos de gente bem posicionada a dizer que a produção de milho e de hortaliças não é suficiente para alimentar a cidade de Luanda, esses pronunciamentos não condizem com a verdade.
Faltam leis que obriguem os comerciantes no meio rural a comprar galinhas, cabritos, milho, feijão, amendoim, cera, mel, batata rena, cana-de-açúcar, soja, abacaxi, banana, hortaliças como no caso de repolho, cebola, alho, cenoura, limão. Não haveria mais os ditos empresários que importassem fuba, cebola e alho do Brasil ou África do Sul.
Transformação dos produtos localmente.
O país Angola tem a sua especificidade, não foi por acaso que Salazar, ditador português criou leis e decretos que obrigasse os portugueses a ter Angola como pais deles. Criando industrias transformadoras e proibir a importação dos produtos alimentares, bebidas, detergentes, farinhas diversas e outros. Esse homem alegava e com razão que a importação esvaziava os cofres. Enquanto a implantação de fábricas locais aumentava mais dinheiro aos cofres do Estado. Para aqueles comerciantes que insistiam na importação, ele Salazar, aumentava-lhes os impostos aduaneiros a fim de os desencorajar de tal prática.
Salazar ainda decretou que tudo que é de produção local e para alimentação populacional não devia ter preços altos. O mesmo era abrangente aos bens industriais produzidos na colónia, os preços tinham que ser baixos para acesso de todos os cidadãos.
As sementes dos cereais devem ser importadas da África do Sul, Zimbabwe ou de Botsuana. Que a nível do país se crie formas de produzir as sementes dentro de poucos anos aproximadamente.
Minha sugestão é que haja moageiras para transformação dos cereais e da mandioca em fuba fina, grossa e em rolão e seu empacotamento de tal forma que saem dos municípios para as casas comerciais das cidades, prontos a ser consumidos.
Haja fábricas de velas iluminantes para que os apicultores vendam a cera que hoje se perde, lembrem-se que as cidades de Benguela ao Luau são frutos das economias da borracha e cera.
Por outro lado as velas produzidas localmente não contribuem na destruição das casas como vemos hoje, as importadas são resultado dos resíduos do petróleo.
Que haja a importação das sementes certificadas de milho, feijão, trigo e arroz de forma a melhorarmos a produção local e colocar fim as sementes regionais e caducas que ainda ostentamos neste século XXI.
Que haja seminários de capacitação aos camponeses e agricultores do meio rural sobre a agricultura moderna dos cereais e hortaliças. Isto é treinamento na preparação dos solos, criação de nitreiras e estrumação; lançamento de sementes e plantação para que um hectare de terra produza mais e haja boas colheitas.
VI- Investimentos/Dinheiro virá donde?
Se queremos contribuir na erradicação da pobreza dos angolanos, todos nós incluindo os camponeses, temos de cultivar os princípios de uma boa gestão das nossas pequenas economias, evitar os gastos supérfluos, solicitar o apoio do Governo no sentido de haver empréstimos bancários para compra de máquinas e alfaias agrícolas, fomentar pequenas e medias indústrias transformadoras, aquisição do gado bovino, galinheiros, suínos e ovinos. A devolução dos dinheiros aos bancos tenha juros bonificados.
VII- Conclusão:
A redução da pobreza não se faz com teorias nem discursos fora dos beneficiários. É preciso que os defensores da Sociedade Civil, e o Governo através dos seus ministérios e das administrações locais falem mais do desenvolvimento do país e do bem-estar das famílias. Visitar os campos dos camponeses mesmo nos lugares onde não há estradas para os carros, usem bicicletas e motorizadas, uma visita duma autoridade municipal ou provincial é grande incentivo para o progresso e Erradicação da Pobreza, de outra forma é contribuir para o aumento da pobreza.
Que haja estímulos aos governadores provinciais, municipais e comunais onde houver maior produção agrícola e pecuária. Principalmente aquelas produções que reduzam a importação no caso de trigo, arroz, feijão, cenoura, cebola, alho e massa tomate.
“O desenvolvimento económico de um povo é proporcional á sua habilidade em manter e desenvolver o solo tirando dele um rendimento superior às suas necessidades”
(REVERENDO SAMUEL BRACE COLES – 1955)
Viana – Km9/A, 30 de Julho de 2011
Atenciosamente
Adelino Manuel Chilundulo